Ermida da Senhora do Monte
A Ermida da Senhora do Monte e S.Gens encontra-se no ponto mais alto no Bairro da Graça e num dos locais com melhor vista panorâmica sobre a Cidade. Mas foi a sua origem no sopé do monte, nas Olarias, no lugar, onde segundo a tradição, o 2º Bispo de Lisboa, S.Gens, mártir durante a ocupação romana, pregava aos cristãos, havendo autores que o dão como discípulo de S.Tiago, o grande Apóstolo da Hispânia. Crê-se que quando da tomada de Lisboa aos mouros, vieram quatro eremitas de Sto.Agostinho na armada estrangeira que ajudou D.Afonso Henriques. O povo, para perpetuar a crença em S.Gens, ofereceu-lhes o sítio em que se conservava a cadeira de pedra do antigo Bispo. Estabeleceram então ali, o seu primeiro eremitério, com um pequeno templo dedicado a Nossa Senhora, e dentro colocaram a cadeira de S.Gens, tida como milagrosa e aliviadora das dores de parto. No local foi também colocado um obelisco comemorativo da tomada de Lisboa.
No século seguinte, uma nobre dama, D.Susana, que pensava fazer uma ermida a N.S.da Visitação nas suas propriedades situadas no alto do monte, doou-as aos Agostinhos, os quais construíram ali, em 1243, o seu segundo eremitério, mantendo nele a cadeira de S.Gens e trazendo também o obelisco que ainda hoje se pode ver no Largo do Monte, em frente à ermida. Em 1271 (pouco menos de 30 anos depois) pensaram voltar para o sopé do monte, para o primitivo templo nas Olarias, por aqui o sítio ser muito ventoso. Tiveram então o oferecimento de um outro local no sítio conhecido por Almofala, onde construíram o Convento e Igreja de Nossa Senhora da Graça, ainda hoje existente, e por coincidência, também este vizinho de um magnífico miradouro de Lisboa (Miradouro da Graça).
Tanto a ermida como o eremitério sofreram grandes danos com o terramoto de 1755, tendo a igreja sido reedificada, aumentado o espaço do eremitério e ainda criado um pequeno jardim. Em 1815, os Agostinhos plantaram árvores no Largo do Monte (no local do actual miradouro) parte das quais se conservaram até ao ciclone que assolou Lisboa em 1941 e que apenas poupou uma.
Com a extinção das ordens religiosas o Estado vendeu toda a propriedade, encontrando-se esta, em 1865 na posse de Manuel Salustiano Damasceno Monteiro (o tal da rua ) o qual fez instalar na Ermida uma imagem de Cristo Cruxificado em marfim indo-português, possivelmente proveniente do antigo Hospital Real de Todos os Santos, e por isso venerado com o nome de Senhor Jesus da Enfermaria. Encontra-se hoje essa imagem guardada / resguardada / escondida na sacristia, não estando acessível ao público.
O herdeiro de Damasceno Monteiro, Higino de Mendonça, já nos finais do séc. XIX, tratou de separar da ermida as propriedades, abateu o arvoredo da quinta, parcelou-a e vendeu-a para construções urbanas. A urbanização do Bairro do Monte data, pois, do princípio do séc.: XX.
Em 1902 passou de novo a ermida para a posse da Coroa/Estado, e em 1933 classificada de Interesse público.
No Largo do Monte/miradouro, foi colocada, anos atrás uma imagem do Sagrado Coração de Maria, num oratório envidraçado, que em nada se enquadra no ambiente.
Texto adaptado do «Dicionário da História de Lisboa»